sábado, 18 de maio de 2013

O poder dos quietos


    Desde os tempos em que era uma dentucinha, portadora de uma barriguinha saliente – reside aqui o cúmulo do eufemismo - pessoinha perambulante e serelepe, que apesar dessa última descrição, vivia passando em branco e sendo uma solitária andarilha das sombras dos outros no fundamental, desde tais época remotas, comumente, tinha espasmos de pânico quando aquela maldita e infeliz hora chegava. ERA SEMPRE ASSIM, E É SEMPRE ASSIM HÁ 18 VERÕES. Em todo começo de ano, o meu momento mais odiado de todos se tornava, de fato, um pesadelo real - a tal da apresentação do primeiro dia de aula.
Estou convicta que se orcs me levassem para Mordor seria mais agradável do que viver aquelas experiências com todos olhando para você enquanto fala o seu nome, idade, entre outras banalidades. Para qualquer pessoa normal, e para você mesmo leitor, devo estar parecendo um tanto quanto louca ou no mínimo exagerada, mas não é bem assim. Esse era o meu pior momento – juntamente com todos aqueles que envolvia alguma forma de oratória – pois sempre fui uma pessoa muito tímida e reservada. Como se não bastasse ter essas características entranhadas na minha personalidade, desenvolvi enquanto criança um distúrbio da fala, ou a popular e piadística gagueira. Quem nunca escutou aquela piada de gago em que seu tio fica repetindo sílabas enquanto arranca risos dos outros? Acredite, risadas são divertidas quando são PARA O SEU TIO, mas a partir do momento em que você é uma criança e se depara diante de uma sala da sexta série olhando para você, enquanto tenta soltar algum ruído com a boca em meio a faces bisonhas que o seu rosto esboça, NÃO, gargalhadas não são legais. Acho meio forte dizer que com 11 anos de idade eu me achava um lixo humano, mas é verdade. Não tinha amigos, mas sim coleguinhas que me acompanhavam pelo corredor imitando o meu jeito de falar, ou comentando com os outros o quanto eu era estranha. Estranho é pensar que os professores viam, mas nada faziam.
    A verdade é que essas questões têm pouca visibilidade na sociedade, porém,  felizmente, as coisas estão mudando aos poucos. Contudo, se tem algo que, REALMENTE, é pouco discutido é a gagueira. Acham que gago é assim porque está nervoso, mas eu te afirmo, NÃO É. É um bloqueio mecânico mesmo, você simplesmente não controla. Sem falar que nem todos são como a gaguinha de Ilhéus, há estágios e há também maneiras de disfarçar. E era isso que eu fazia a partir do 13 anos de idade, quando comecei a frequentar uma psicóloga e uma fonodiouloga. É engraçado tentar explicar, mas durante esses anos criei mecanismos para não me sentir uma aberração, dificilmente você me verá empacada em sílabas com movimentos repetitivos iguais você viu em Tempos Modernos naquela aula de artes da oitava série, no máximo, ficará esperando eu terminar uma frase, são pausas, estou tentando falar, e é assim que hoje em dia consigo ter um amplo controle sobre a minha gagueira, porém, às vezes, há recaídas ou pausas maiores, mas NÃO, EU NÃO ESQUECI O MEU NOME. NÃO, EU NÃO ESQUECI O CURSO QUE FAÇO, repito, apenas estou tentando falar.

     
    Recentemente, estava em um restaurante com alguns amigos, e um deles estava folheando um livro vermelho que em letras garrafais intitulava-se: O poder dos quietos. Algum tempo depois me vi nas Livrarias Curitiba louca por esse livro, fiquei triste por tê-lo encontrado na sessão de autoajuda – quem me conhece sabe sobre o MEU AMOOOOOR POR LIVRO DE AUTOAJUDA – mas enfim, comprei mesmo assim e não me arrependi. Acredito que essa leitura me fez ver que não há nada de errado em ser assim, às vezes, a gente cobra demais de si mesmo e esquece das nossas peculiaridades, as quais foram desenvolvidas justamente por coisas que, muitas vezes, consideramos defeitos, mas que acrescentam coisas boas em nossas vidas.
Se posso ser um pouquinho de Poliana aqui, acho que todos esses problemas que carrego me fez ser uma pessoa mais paciente, julgar menos os outros e uma ótima ouvinte – por motivos óbvios. Não quero bancar uma de Cury, porém, o objetivo de todos esses caracteres escritos nesse espaço, é encorajar quem possui problemas por ser tímido ou coisas do gênero – os quais escutei pelos cantos desde que cheguei ao campus - pois eu mesma demorei para entender que já passou da hora de sair da comunidade de gagos do facebook e dar a cara ao mundo. E por que não em um curso de COMUNICAÇÃO social? Às vezes acho um tanto irônico ter escolhido o que curso que escolhi, justo eu, pessoa com tantos problemas relacionados à comunicação, mas penso um pouco mais e vejo que não tem jeito, há quase quatro anos que não consigo imaginar outra profissão para a minha vida, sou simplesmente encantada por toda essa área e é isso que quero fazer, independente de qualquer coisa.
    Logicamente, não é fácil me expor dessa forma, berrar ao quatros cantos da Floresta um problema que me corrói tanto, e por muitos anos tentei esconder, mas agora vejo essa possibilidade como uma forma de – como havia comentando antes – dar uma maior visibilidade a esse assunto que é pouco debatido, o qual as pessoas apenas costumam a rir das inúmeras piadas e nunca pensam como alguém que sofre disso se sente, e tenha certeza, pode ter um gago, um introvertido, ou um tímido muito perto de você, sofrendo, corroendo-se todos os dias, achando que é um completo fracassado, foi como me senti por muitos anos. 
Felizmente, hoje sigo lutando à espera dos próximos 18 verões, quando finalmente poderei afirmar que o curso de comunicação e a própria vida, também é dos introvertidos, tímidos, gagos, estranhos e enfim, humanos comuns com problemas normais. 
 
ps* Sim, as fotos são autorretratos. 

6 comentários:

  1. Aiiin Isa! Nós amamos você! E a sua gagueirinha sempre te fez (pelo menos ao meu ver) mais fofa ainda!
    Acho que você é a pessoa mais fofa do mundo! E agora vejo que corajosa e forte também, por enfrentar e dar a volta por cima, e ainda "berrar aos quatro cantos da Floresta"
    E vamo que vamo ao caminho dos comunicadores! :D
    Linda!

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  2. Isaaaa, que texto incrivelll. Você colocou em palavras o que muitas pessoas sentem, e eu, inclusive, me identifiquei com muitas partes do texto. Parabéns, ficou muito bom mesmo, de verdade!!

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  3. Eu já tive problemas de timidez quando era criança, então, eu me identifico em várias situações que você escreveu. Parabéns pelo texto e obrigada por fazer parte da minha vida <3

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  4. Isa, adorei seu texto! Transmite tudo que seus lábios e olhos disseram à mim, de uma maneira tão, mais tão sincera, que te deixa mais fofa ainda! (sim, é possível). Parabéns pela coragem!

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  5. Ah, que lindo Isa, me identifico com a maior parte do que você escreveu! perfeito *-*

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  6. Eu me identifiquei com tudo. ;) O mais engraçado é que meu primeiro estágio foi em uma agência de pesquisa por telefone... *rs Acho que talvez você entenda o "monstro" que é falar por telefone. Sempre li e nunca escrevi nada aqui, mas agora TINHA que comentar algo. Parabéns pelo texto. :) Aliás, parabéns a todos vocês pela excelente iniciativa, acho o máximo. Tô vendo mesmo aquilo de domínio.

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